Aproveitando o Dia do Compositor (07/10), publico aqui o conto que escrevi sobre o “nascimento” do CD Hora & Lugar. No texto, eu narro poeticamente o meu primeiro encontro com cada canção, com cada compositor, com o estúdio e com o produtor musical do CD. Para aqueles que já compraram o disco, esse conto serve também como detalhamento das referências de hora e lugar contidas no encarte junto com as letras das músicas.
AG
Hora e Lugar — Encontros
Esta história constitui-se de várias mini-histórias, que chamarei de encontros. Achados! Aqueles encontros marcantes na vida. Uns mais inusitados do que outros, mas todos gerados pela força do destino disfarçado de acaso.
O primeiro aconteceu assim: eu não sabia chegar na casa dele, que era o lugar marcado. Então, telefonei para o seu celular de dentro do carro. Conheci a voz. Era uma tarde. Em poucos minutos o avistei e deduzi que era ele. Ele veio até o carro. Eu o conheci pessoalmente. Mais de um ano depois floresceram “Falta” e “Vida-Ciranda”. — Ano de 2005. Encontrei-me com Jorge Canaan.
O outro encontro começou como o primeiro. Eu não sabia chegar na casa dele, que inclui o estúdio. Telefonei e conheci a voz. Marquei hora. Foi num sábado à tarde. Em poucos minutos lá cheguei. Eu o conheci pessoalmente. Após uns meses floresceu meu CD single. — Primeiro semestre de 2007. Encontrei-me com Israel Santana/Studio Mercury.
O terceiro encontro aconteceu sem hora nem lugar agendados. No estúdio (aquele do encontro anterior), ouvi a gravação da minha primeira música. Ela tinha um lindo piano. Conheci a musicalidade dele. Num outro dia voltei ao estúdio. Ele estava lá e nos apresentaram. Eu o conheci pessoalmente. Dois anos depois floresceu “O monte”. Primeiro ou já segundo semestre de 2007. — Encontrei-me com Thiago Rudrea (ele ainda era Thiago Melo).
A quarta mini-história foi precursora de mais quatro. Ela inaugurou um mesmo lugar para esses cinco encontros: a internet. Foi desta maneira: eu cheguei até a página musical deles. Ouvi várias canções e apaixonei-me por uma: “Namorando o ar”. Conheci o talento deles. Mandei um e-mail. Comunicamo-nos com simpatia. Tivemos ótima sintonia. Eu os conheci virtualmente. — Novembro de 2007. Encontrei-me com Lina de Albuquerque e Gedley Braga (projeto Lavadeiras).
O quinto achado surgiu onde já se sabe. Porém, iniciou-se um pouco diferente do anterior: recebi um convite virtual dele. Fui ouvir suas composições. Adorei. Conheci o talento dele. Aceitei o convite. Trocamos elogios musicais. Abrimos portas mútuas. Eu o conheci virtualmente. Ganhei a “Sim”. Oito meses depois floresceu a “Opção derradeira”. — Janeiro de 2008. Encontrei-me com Vilmar Filho.
O sexto encontro abre um espaço de tempo entre os achados não presenciais. Ocorreu na minha casa. Acho que foi num fim de tarde. Eu sentada ao teclado. Meus dedos buscavam melodias pelas teclas. Eu acertava o ritmo e colocava letra. Escrevi a partitura de “Cantiga do tempo”. Conheci-me autora de uma (singela) melodia. — Junho de 2008. Encontrei-me com uma nova faceta de mim mesma.
O sétimo encontro sucedeu num dia especial: chuvoso. Eu estava no setor de Direitos Autorais da Escola de Música da UFRJ. Ele também. Eu o conheci pessoalmente. Engrenamos numa conversa. Notei honestidade e entusiasmo contagiantes. Ele me mostrou várias de suas composições. Escolhi uma: “Vertigem de altura”[1]. Um verso dela me fisgou. Fizemos nosso trato. Fomos embora juntos, conversando, na companheira chuva. — Junho de 2008. Encontrei-me com Mario Pimentel.
A oitava mini-história retoma aquelas ambientadas na internet. O início se repete: recebi um convite virtual dele. Fui ouvir suas composições. Conheci o talento dele. Atrevida, enviei-lhe uma letra minha. Trocamos vários e-mails. Na sondagem e papo de artista, descobrimos semelhanças. Firmamos reciprocidade. Eu o conheci virtualmente. Três meses depois floresceu a “Delicadeza”. — Junho ou julho de 2008. Encontrei-me com Eric Brandão.
O nono achado surgiu por um programa de rádio web[2]. Eu conferia a lista de músicas tocadas. Buscava canções inéditas. Deparei-me com o nome dele. Ouvi suas composições. Conheci o talento dele. Escolhi duas. Fiquei na dúvida. Queria as duas maravilhas. Consegui escolher uma: “Sua Lenda”. Contactei-o pela internet. Ele me respondeu assim: “Manda brasa, cantora!” Eu o conheci virtualmente (hoje pessoalmente!). — Julho de 2008. Encontrei-me com Marcello Santos.
A décima mini-história se parece com outras duas. Recebi um convite virtual dele. Fui ouvir suas composições. Conheci o talento dele. Amei as canções. Amei uma em especial: “Percussìvé”. Paixão à primeira ouvida. Trocamos e-mails vibrantes. Poder da Arte. Passados três meses não resisti: pedi a música. Ele aceitou. — Outubro de 2008. Encontrei-me com Felipe Azevedo.
O décimo primeiro e os outros próximos encontros ainda não se apresentaram. Eles estão guardados no desejo criador de cada mini-história contada aqui. Esperam por determinada hora e lugar. Sem exceção, ambicionam encontros de alma: alma de canção com alma de ouvidos abertos.
RJ, agosto e setembro de 2009.
Amanda Garruth
[1] A música referida é uma parceria entre Mario Pimentel e Fábio Mendes.
[2] O programa “Estrada 55” é produzido e apresentado pelo jornalista e divulgador cultural Ricardo Loureiro, tendo sido transmitido, na época, pela Rádio Maré Manguinhos (Fiocruz, RJ).
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